Muito me acontece, como médium, de receber mensagens para entregar à outras pessoas. Assim é com amigos e conhecidos. Já cometi a gafe de ter um sonho que claramente não era apenas um sonho, mas um aviso para alguém com quem não sou tão íntima. Me aconteceu, inclusive, de fazer uma abordagem inconveniente, do tipo: 'Oi, sonhei contigo, acho que você está com encosto. Quer ajuda?' Agora, tenho consciência do quão estranho deve ter sido receber uma mensagem dessas. Mas, não foi o caso dessa noite. 

O sonho iniciou com uma pessoa me pedindo ajuda para as questões espirituais dela. Eu não estava prestando muita atenção, me parecia que ela estava querendo que eu fizesse o trabalho por ela. Ora. Vocês me conhecem. 50% são os Deuses, os espíritos ou o universo. Os outros 50% somos nós e nossas ações - eu só te mostro o caminho. Gosto muito quando vocês se colocam como protagonistas da própria jornada espiritual (alou! não existe jornada espiritual de outra forma).

Enfim, ela me contou da demanda dela, fiz sinal para ela parar e esperar. Peguei uma vela, não lembro se a sua cor era preta ou vermelha e preta, respirei fundo, chamei Exu. A energia de Exu entrou em mim (tipo uma incorporação controlada) e transmiti ela para a vela. Entreguei a vela para a garota, quase como dizendo: toma, te vira, agora é contigo.

Mas essa não é a parte interessante do sonho. Não sei quem é a garota que sonhei - e, durante o sonho, nem ligava para tal. Foi interessante de fato enxergar (pois o sonho permitiu isso) como acontece a energização ou incorporação, enxergar a energia de Exu entrando em mim, sobrepondo-se, sendo controlada e então direcionada para a vela. Depois disso, fui visitar o terreiro de uma das minhas melhores amigas.

Eu sabia que não teria gira aberta ao público. Por algum motivo, a gira fora cancelada e apenas quem fazia parte da corrente do terreiro participaria, mas eu tinha que estar lá pela minha amiga. 

Cheguei num grande deck de madeira que dava para onde o mar se encontra com o rio. A água estava cristalina e o cheiro de doce e salgado era ótimo. A Mãe de Santo mandava os membros da corrente descansarem e se conectarem com Yemanjá, haviam membros vestidos de pescador, mulheres de saia longa e turbante, porém todos de branco, alguns fazendo movimentos de pesca, outros deitados relaxando em redes de tecido conectadas à vigas.

Eu olhava tudo aquilo e me maravilhava com os peixes passando por baixo do deck, lagostas nadando para lá e para cá, sereias e enormes tritões pulando como golfinhos por cima de nós. Falei com a Mãe de Santo. Falei com minha amiga.

Acordei. Preocupadíssima. Não podia esquecer nenhum detalhe. Passei o recado para ela. No fim da conversa:

- Sei lá o que significa. 

- Nem eu.

- Mas, os tritões eram lindos.

Bom, se quem precisava receber a mensagem não entendeu, imagina eu? Esse foi o aprendizado do dia. Às vezes a gente se preocupa demais. 

Foi um sonho gostoso de viver, isso que importa. 

Com carinho e sempre sonhadora,

Hele