02 | O Peso do Mestre: Aceitar seu Dever

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 Ser benzedeira é algo muito altruísta - pelo o que eu entendo de altruísmo, a falta do egoísmo. Eu e minhas avós temos conexões espirituais: somos parecidas na virtude de querer ajudar as pessoas. A avó como um símbolo já é espiritual por si só. A matriarca nos abraça e ensina. Tenho certeza que você também (salvo exceções) sente algo parecido pelas suas avós.

Uma das minhas avós, benze e tem histórias espirituais desde jovem. Todas as vezes que eu a visito, ela conta algo novo e dessa vez, foi uma fofoca. Só que, quando somos iniciados no universo místico, uma fofoca não é apenas uma simples fofoca. Já percebeu que as pessoas falam coisas que você precisa ouvir?


Outro dia, quando estava recuperando-me do burnout, minha avó materna lançou o seguinte:

- Ah vó, mas a gente tem que ajudar os outros, né. - comentei, respondendo ela sobre algo.

- Mas de quê adianta ajudar e ajudar, quem nem quer ser ajudado? Ou quem não reconhece? Daí a gente faz pelos outros, mas não faz pela gente e a gente só se cansa. Tens que pensar primeiro em ti.

É engraçado que não, nós não estávamos falando sobre mim. Já te aconteceu também? 

Enfim, sobre a fofoca. Minha avó paterna contou que uma afilhada dela, que também tem a arte da benzedura, estava com problemas, chegando até a buscar um psiquiatra. 

- Sabe - ela disse quase sussurrando, desdentada - isso tudo é por que ela não tá aceitando o dom. Ela não quer benzer. Quando perguntei por quê, ela contou que a mãe dela, que era minha amiga, não tinha descanso. 

"Madrinha, era dia, era noite, e tinham sessenta, oitenta pessoas na porta da minha mãe, para benzer! Ela não descansava nunca. Não quero isso pra mim." 

Não entenda errado. Eu sou uma grande hater do "propósito de vida" e coisas do tipo. Tudo que os Deuses me ensinaram sobre a vida é que existimos por que Eles quiseram e a manifestação é feita para aprender, para sentir, para se deliciar e para morrer. Como uma grande experimentação da vontade divina. Não existe um grande propósito, apesar de sim, os acontecimentos e pessoas estarem conectados pelo destino - só não tão romantizado feito novela da Globo, por favor.

Mas, algo que me prende feito bola de ferro - e estava me doendo naqueles dias em que a visitei - é o peso do sacerdócio, o dever do mestre, o legado do iniciado. Deve ser coisa de filha de Thoth ou de Hermes, não sei, mas, para mim, felicidade boa é felicidade compartilhada e o que eu aprendo na magia e no autoconhecimento eu gostaria de dividir com todos. 

Então, às vezes isso se torna um fardo. Depois do meu início de burnout ("início" pois eu acredito que poderia ter sido muito pior), estar aqui - ensinando - tornou-se muito mais difícil. Mas, se eu me ausentar, sei que me tornarei como a afilhada de minha avó: fazendo amizade com o psiquiatra.

É por isso que eu sempre sumo, mas volto, né? Meu lugar é fazendo magia com vocês.

Com amor, Helê





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